Por: Milenka Cuajera
1- De onde surgiu a ideia de criar o Instituto Árvores Vivas?
A partir de uma iniciativa pessoal. Na chegada da primavera de 2006 eu trabalhava em uma instituição de pesquisa tecnológica e tinha acesso a um grande conteúdo a respeito de madeiras - amostras e identificação de espécies. Lá pude perceber que de maneira geral grande parte da sociedade está fragmentada e dissociada da origem natural de tudo que nos cerca. A água só sai na nossa torneira porque árvores e florestas estão cuidando das nascentes, margens de rios e fluxo dos rios aéreos. Ou quando comemos uma fruta poucas vezes conhecemos a árvore viva que nos oferece esse alimente se não encontramos com ela na época de frutificação. Outras ocasiões medicamentos que salvam nossas vidas ou auxiliam nossa saúde vem de um grande diversidade de árvores que pouco conhecemos, e elas podem estar na calçada da nossa casa. Essa separação e pouco contato com a natureza é fatal para nós mesmos quanto humanidade. Não temos o hábito de sentir as plantas, saber qual a sua textura, o aroma de suas flores, não vemos plantas como seres vivos. Achamos que são quase inanimadas, com pouca similaridade com a vida humana. Mas isso não é verdade, somos muito parecidos e ao não manter e cultivar esse vínculo permitimos o desmatamento, o tratamento cruel das árvores nas cidades, a destruição de biomas e florestas inteiras, sem perceber que estamos ferindo o elo que mantém grande parte do ecossistema como conhecemos e nos permite viver.
O Árvores Vivas nasce desse impulso e por enxergar a necessidade de restabelecer esse vínculo, essa conexão. Vislumbramos como sonho, que o mundo e toda a sociedade possa se reconhecer através de seus biomas, de suas particularidades ambientais. As soluções emergem da natureza, do ambiente em que vivemos. O cuidado e preservação devem ocorrer não por uma crise, mas profundamente porque sabemos e sentimos que todo esse legado, essa riqueza natural que nos une é parte de quem somos.
2- Como o Instituto avalia o desenvolvimento dessa ideia?
De maneira muito positiva, ao longo de quase 10 anos percebemos que a comunicação é diariamente ampliada e chega cada vez mais em toda população, principalmente através do trabalho realizado com crianças em escolas e instituições de ensino e cultura jovem. Essencial trabalhar as novas gerações para conseguir construir uma cultura ambiental enraizada na sociedade.
3- Os resultados obtidos alcançaram as expectativas que vocês tinham no início?
Ainda temos muito trabalho a fazer, muitos - mais de 200 mil pessoas - já foram impactados com nossas atividades ao longo desse período. Pessoas de todas as idades, desde crianças de ensino infantil até os anciãos. Quando temos a oportunidade de realizar vivências mais completas e profundas, com diferentes atividades, conseguimos ver imediatamente a diferença que provocamos e estimulamos na maneira como todos percebem a natureza à sua volta. Temos relatos de pessoas que tornaram-se plantadores de árvores, ou que nunca mais enxergaram a natureza no dia-a-dia da mesma maneira. Certa vez um grupo de crianças chegou a conclusão: "É um museu vivo a céu aberto" e é isso mesmo. A natureza está ai para nós apreciarmos, cuidarmos, agradecermos, é como se nela encontramos nosso ninho, nosso colo, nosso sentido. Somos natureza e esse é um grande despertar, somente alcançado quando nos permitimos estar em contato. Está comprovado que inúmeras doenças de caráter emocional, transtornos psicológicos e até mesmo capacidades de repertório criativo e desenvolvimento motor estão intimamente ligados às oportunidades que uma criança teve na sua infância de vivenciar o contato com a natureza e o ambiente natural. Cada vez mais o foco das atividades do Instituto é voltado para as crianças, inclusive estamos na rede de instituições que está trazendo modelos de projetos com esse foco já reconhecidos mundo afora, para o Brasil. Imagine só, o Brasil, um pais com grande riqueza natural, mas poucos brasileiros sentem essa natureza como sua identidade.
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